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E assim se formou a humanidade...

O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM E SUAS DIFICULDADES NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA. (cont.)

Transpor de forma didática as concepções de historiográficas não é tarefa fácil, o próprio livro didático, que deveria ser mais um mecanismo para a aprendizagem, reafirma um discurso tradicional. Embora em seus prefácios os autores afirmem uma valorização das experiências vemos a permanência dos velhos esquematismos e da visão eurocentrica da História, da periodização e da divisão cronológica numa falsa idéia de agente e implicação.

Cada uma das repartições, idade antiga, medieval, moderna e contemporânea corresponde a um livro texto e consequentemente a uma série, atualmente é de consenso entre as escolas particulares de São Luis o ensino da “Idade Antiga” para os alunos da 5ª série do fundamental. Perpetuando ainda a velha organização cada capitulo evidencia uma “grande civilização” e apesar de alguns livros já tratarem do quotidiano da sociedade e da cultura esses sujeitos históricos são vistos como parte de um filme com começo meio e fim.

Na mente do aluno da 5ª série, que em geral estar na faixa etária dos dez a doze anos, essas civilizações estão desvinculadas uma das outras, assim seguindo a organização do livro a Mesopotâmia só começa quando o Egito acaba. Contemporaneidade para ela é mais uma divisão da História e afirmar que mesopotâmicos e egípcios foram contemporâneos seria misturar os tempos que o livro não explica. Desmistificar essas idéias calcificadas é para os próprios professores os maiores desafios.

Para Antonio Santoni Rugiu essas idealizações retóricas, termos imutáveis e personagens importantes para cada período...

Ajudaram, não pouco, a inculcar a idéia de arcos históricos fechados em si mesmos, como mônadas incomunicáveis, cada um por si, como tramas e personagens de filmes separados.
Resulta assim difícil, não somente para os alunos e professores, mas também para estudiosos não particularmente dotados de originalidade, apagar totalmente esta idéia impressa na infância e na adolescência e derrubar os bastiões insuperáveis que dividiam periodizações e subperiodizações, cada uma delas vista como uma base incomunicante.
[1]

Não basta apenas mudar a historiografia, abrir espaços para novos estudos, ver de modo diferente os sujeitos históricos se quando chega o momento de transpor estes saberes didaticamente para as crianças eles se perdem e a reprodução enfadonha de um professor enciclopédia continua. Ensinar e aprender História devem ser algo divertido e prazeroso tanto a História e a historiografia estão em constantes mutações basta agora que a didática desse ensino caminhe lado a lado com essas transformações.

E para conseguir tais resultados o professor deverá desenvolver o que eu prefiro chamar de uma “pedagogia da motivação”, desenvolver técnicas, utilizar meios e recursos para motivar, acima de tudo a pesquisar, a aprendizagem se dará no processo.

Um dos papeis do professor de História é justamente este, despertar o aluno para o prazer do conhecimento histórico, transformar sua sala em um ambiente de pesquisa pode se um primeiro passo, segundo Paulo Knauss,

Transformar a sala de aula em um lugar de pesquisa histórica exige algumas considerações. A qualidade do encaminhamento proposto é atribuir ao ensino o sentido de iniciação à pesquisa. [...] O ensino de história deveria ser “uma iniciação ao pensamento histórico”. Trata-se, portanto, de enfatizar a integração ensino-pesquisa, com o compromisso de desabsolutizar a produção do conhecimento e evitar a mística da ‘superstição da ciência’
[2].

Ao fazer isso o professor começará a desabsolutizar o conhecimento e encontrando espaço para aproximar as pesquisas universitárias do universo escolar do Ensino fundamental e Médio. Na verdade seria interessante que as discussões de natureza teórico-metodológica se iniciassem nesta fase, a própria historiografia, abordada em sala de aula como objeto de pesquisa proporcionaria aos alunos desmistificar a idéia de uma história estaques, com apenas sujeitos datados.

Trata-se, aí também, de caracterizar o conhecimento histórico como processo, além de evidenciar que a multiplicidade do real não se reduz à força das abstrações conceituais. Ademais, pode-se alcançar a compreensão de que, por vezes a noção de erro é condicionada pelo instrumental e intelectual e pratico disponível. Tudo tomando um sentido relativizador dos limites do conhecimento, fazendo com que o próprio aluno se sinta a vontade para vivenciar eventuais equívocos e limitações.
[3]

O que se propõem não é uma relativização sem propósito, mas sim um debate no qual o aluno perceba que todos somos frutos de uma cultura que se modifica ao longo dos anos e que, portanto cada um tem um olhar diferenciado sobre as fontes produzindo uma leitura de mundo distinta, mas não errônea.

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[1] RUGIU, Antonio Santoni. Por uma moderna História da Educação. São Paulo: editora [?] 19?? P.40
[2] KNAUSS, Paulo. SOBRE A NORMA E ÓBVIO: a sala de aula como lugar de pesquisa. In: NIKITIUK, Sônia L. (org.). Repensando o ensino de História. 3ª ed. São Paulo, Cortez, 2001. P. 40.
[3] Id. IBID, p. 43.